Breve Introdução por Maria da Serra Verde...

Esta é uma história de amor bordada a dois na fina e delicada arte dos poetas…

Ela borda a linha azul
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!

Ele borda a linha verde
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!

Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…

Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.

Perdem-se um no outro…

Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!

quarta-feira, julho 9

(Ele)...como as manhãs tocam a paisagem...

da poesia de Victor Matos e Sá, daqui e dali…
começam por ti todos os versos
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Começam por ti todos os versos...
Trago-te na minha vida como quem
Escuta os passos musicais do tempo,
Como as manhãs tocam a paisagem...
E amplamente te recebo dos horizontes da dor
Que é a nossa distância de seres quase tudo.
Trago-te na minha vida como é possível
A noite trazer o luar

segunda-feira, julho 7

(Ela)... e, para ti, é sempre SIM...

Sabes que resguardo o melhor de mim, no mais recôndito de mim…
sabes que me guardo para ti…
e, para ti, a minha resposta é –sempre!- SIM
n’as pequenas gavetas do amor de Ana Luísa Amaral

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Se for preciso, irei buscar um sol
Para falar de nós:
Ao ponto mais longínquo
Do verso mais remoto que te fiz.
Devagar, meu amor, se for preciso,
Cobrirei este chão
De estrelas mais brilhantes
Que a mais constelação,
Para que as mãos depois sejam tão
Brandas
Como as desta tarde
Na memória mais funda guardarei
Em pequenas gavetas
Palavras e olhares, se for preciso:
Tão minúsculos centros
De cheiros e sabores
Só não trarei o resto
Da ternura em resto desta tarde,
Que nem nos foi preciso:
No fundo do amor, tenho-a comigo:
Quando a quiseres-

domingo, julho 6

(Ele)... o teu ar luminoso e gaiato...

Viriato da Cruz escreveu Namoro, a que Sérgio Godinho deu a música e a voz…
uma carta em papel perfumado,
aquecida com o entardecer mágico dos dias de outros quadrantes,
com o encanto dos enamorados,
com as palavras doces do enamoramento…
comigo dentro…
para tu me dizeres que sim, que sim… SIM…
com esse teu ar –ao mesmo tempo- gaiato e maduro de miúda e de mulher ...

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Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorriso luminoso tão quente e gaiato
com o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas
Sua pele macia – era sumaúma…
Sua pele macia, da cor do jambo cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce – como o maboque…
Seus seios, laranjas – laranjas do Loje
seus dentes… -marfim…

Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
“Por ti sofre o meu coração”
Num canto – SIM, noutro canto – NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou.

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro…
E ela disse que não.

Leivei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu…
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficámos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos…
falei-lhe de amor… e ela disse que não.

Andei barbado, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
“-… Não viu… (ai, não viu…?) não viu Benjamim!”
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba –dancei com ela
e num passo maluco voámos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: “Aí, Benjamim!”
Olhei-a nos olhos – sorriu para mim
pedi-lhe um beijo – e ela disse que sim.
E ela disse que SIM.

sábado, julho 5

(Ela)...sou eu própria...

Estes são os meus pontos, meus, só meus, para ti, só para ti...
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sou eu própria...
que me escrevo e reescrevo nas palavras que te envio...
ansiando que as leias como quem faz amor com os olhos.