Breve Introdução por Maria da Serra Verde...

Esta é uma história de amor bordada a dois na fina e delicada arte dos poetas…

Ela borda a linha azul
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!

Ele borda a linha verde
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!

Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…

Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.

Perdem-se um no outro…

Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!

segunda-feira, junho 30

(Ela)...namoramos por palavras...

aqui e ali da poesia de Eugénio de Andrade (3)
namoramos por palavras e

por palavras bordamos o lenço que nos envolve
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de palavra em palavra
a noite sobe
aos ramos mais altos
e canta
o êxtase dos dias

sábado, junho 28

(Ela)...quero subir os teus degraus...

aqui e ali da poesia de Eugénio de Andrade (2)
eu sei que me impaciento…

mas quero ser corrente, amor…
quero ser rio…

quero subir os teus degraus…
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Ama
como o rio sobe os últimos degraus
ao encontro do seu leito

(Ela)... e dos beijos?

aqui e ali da poesia de Eugénio de Andrade (1)
Tenho saudades tuas!
Como suportar estas saudades que enchem e extravasam?

Como aguentar e suportar todo este imenso?
Gosto tanto de ter a meu lado, perto, dentro, que não aguento quando estás longe!
E dos beijos? Como suporto a ausência dos teus beijos?
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Lábios. Com sede
ainda doutros lábios.

sexta-feira, junho 27

(Ela)... excessivamente romântica?

Encontrei algures perdido num dos seus contos “Doze casamentos felizes”,
esta citação de
Camilo Castelo Branco
excessivamente romântica à luz dos nossos dias mas tão certa, tão certa!

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Depois do céu quem mais faz milagres é o amor

quinta-feira, junho 26

(Ela)... verde de mim...

Verde de mim...
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Vida....o ar inspirado, o fôlego de querer mais e melhor.

Esperança....o que nos faz caminhar e seguir em frente.... e aprender a aguardar....o que envolve o sonho em cores sentidas e desejadas

Riso....instrumento da alegria, da saúde da mente e do coração.... há que aprender a sorrir, a rir, a gargalhar, por tudo e por nada, como se fossemos tolos, porque eles são felizes!

Dádiva....falar de amor é já amor, por isso dar amor é uma benção que nos é permitida em cada gesto, em cada olhar, em cada palavra.

Estímulo....que existe em tudo, basta querermos olhar e ver.

Podiam ser estas palavras ou outras quaisquer....

Verde não tem A

por isso não tem claramente expressa a palavra mais bonita

porém, não estará ela contida em todas as outras?

terça-feira, junho 24

(Ele)... é por ti, que não és musa, nem deusa...

Descobri ao ler Ramos Rosa, uma bela imagem poética para ti...
mulher do meu horizonte
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É por ti que escrevo que não és musa nem deusa
Mas a mulher do meu horizonte
Na imperfeição e na incoincidência do dia-a-dia
Por ti desejo o sossego oval
Em que possas identificar-te na limpidez de um centro
Em que a felicidade ase revele como um jardim branco
Onde reconheças a dália da tua identidade azul
É porque amo a cálida formosura do teu torso
A latitude pura da tua fronte
O teu olhar de água iluminada
O teu sorriso solar
É porque sem ti não conheceria o girassol do horizonte
Nem a tímida integridade do trigo
Que eu procuro as palavras fragrantes de um oásis
Para a oferenda do meu sangue inquieto
Onde pressinto a vermelha trajectória de um sol
Que quer resplandecer em largas planícies
Sulcado por um tranquilo rio sumptuoso.

segunda-feira, junho 23

(Ela)...quem não tem medo de naufragar...

Não é poeta mas é uma poeta…
não escreve de forma elaborada mas atinge o mais profundo
com as suas palavras simples que compreendo e
que parecem que são a expressão do que vai cá dentro…
ouço a Mafalda Veiga...e gosto da música e das palavras singelas…
e não acho que destoe no meio dos poetas maiores…
afinal não somos todos nós um pouco poetas?

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Sei de cor cada lugar teu

atado em mim,
a cada lugar meu
tento entender o rumo
que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar

Pensa em mim
protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei

Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve p’ra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só

Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar

domingo, junho 22

(Ele)...vencido, regresso devagar ao teu sorriso...

No meu pensamento, eclode o teu sorriso…
uma explosão de ti que me enche tudo por dentro, que me faz querer –confesso!-
que não fosses tão fundamental… Compreende-me!
Sou homem e os homens sentem medo da entrega total.
Embora não o assumam, têm um medo terrível de sofrer por uma mulher…
Por isso, muitas vezes, finjo que ‘não é nada comigo’…
mas estás lá, meu amor!
Dentro de mim como fogo que alastra e me devora por dentro! por fora!
E eu, por vezes, apenas finjo que não és a razão principal do meu viver…
Depois, vencido, regresso devagar ao teu sorriso e
prendo-me no teu sorriso e
prendo-me a ti e,
assumidamente, dou-me a ti em nó cego e sentido,
sem tu saberes!
e sinto, tal como António Manuel Pina, o Amor como em Casa
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Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

sábado, junho 21

(Ele)... estás tão bonita hoje...

Hoje o Verão instalou-se na minha vida e encheu tudo de cor…
sobretudo, impera o vermelho …
e é vermelho o que sinto por ti,
esta pulsação com que bate descompassado o meu coração…
para ti, Mulher Mais Bonita do Mundo,
esta cor vibrante das linhas com que borda José Luís Peixoto
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estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.

entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.

entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.

há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.

estás tão bonita hoje.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

de encontro ao silêncio, dentro do mundo, estás tão bonita é aquilo que quero dizer
.

quarta-feira, junho 18

(Ela)... e vieste abrir-te na escuridão da tua casa...

Que bonitos pontos tens bordado no nosso lenço…
tenho-me envolvido neles, uma e outra vez…
sobretudo nestes dias em que me sinto tão só e tu me pareces quase irreal…
o amor, às vezes, é tão longe, tão longe… sinto e ressinto-me desta distância que existe entre nós… distância de espaço e de tempo…

sinto falta que me batas à porta e eu abra a porta e eu me abra para ti… ou
que eu te bata à porta e tu abras a porta e te abras para mim…
Príncipe -meu Príncipe- de Ana Hatherly

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Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.

São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta e vens abrir-me

terça-feira, junho 17

(Ele)... para ti... eu criei todas as palavras...

Mia Couto é escritor, mas tece as palavras com a poesia das palavras quentes de África, de Moçambique sua terra natal… palavras que criam lenços sublimes, quentes, coloridos, cheirosos e profusos de sentimentos bons…
Para ti, mulher que és minha, eu criei todas as palavras!
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Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

domingo, junho 15

(Ele)... e eu SOU em ti...

Minha querida, não te queria confundir…
sou cativo de ti…
Bordei-te aquele poema com a perplexidade que se sente perante a enormidade dos sentimentos que simplesmente não têm qualquer explicação.

Ocorrem. Sentem-se. São! E eu sou em ti!
Umas vezes sem dúvidas, outras com estupefacção perante o que é grandioso e inexplicável.
Perdoa-me se os meus pontos não foram delicados…

Hoje, tentarei ser mais perfeito para ti… ir ao teu encontro com Amo-te Sempre
de Victor Matos de Sá
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Amo-te sempre
com um pouco de barco e de vento
com uma humildade de mar à tua volta
dentro do meu corpo; com o desespero
de ser tempo;

com um pouco de sol e uma fonte
adormecida na ternura.
Merecer este minuto de palavras habitando
o que há sem fim no teu retrato;
Este mesmo minuto em que chegam e partem navios
- nesta mesma cidade deste
minuto, desta língua, deste
romance diário dos teus olhos –

(e chegarão com armas? refugiados? trigo?
partirão com noivas? missionários? guerras? discursos?)
Merecer a densa beleza do teu corpo
que tem água e ternura, células, penumbra,
que dormiu no berço, dormiu na memória,
que teve soluços, febre, e absurdos desejos
maiores que os braços,

merecer os dias subindo das florestas - e vêm
banhar-se, lentos, nos teus olhos...

Merecer a Igreja, o ajoelhar das palavras,
entre estes cinemas visitando, em duas horas, a alma,
estes eléctricos parando atrás do infinito
para subirem os namorados, a viúva, o cobrador da luz, a

costureira
entre estes homens que ganham dinheiro, sangue frio, ou vícios,
ou medalhas
e estes telefones roubando a lealdade dos olhos...

Teus cabelos cheirarão ainda a infância
e a vento, depois de passarem por esta fome pública,
estes olhos com regras de trânsito, estes dias sujos,
estes lábios que já não ensinam o pomar
ou a fonte, nem têm gosto de leite e de aurora,
depois destes olhos cheios da pergunta de estarem vivos em vão?

Merecer honradamente este poema, todos os poemas,
como quem parte, entre os dedos a brancura quente de um pão!

(Ela)... são estas as palavras que me beijam

Num repente, li-te e reli-te… não te entendi…
não compreendi as palavras difíceis do poeta…
não entendi o que me tentaste transmitir…
leio de novo, uma e outra vez…
Que me dizes? Que me falas? Que me expressas?
Fico-me pelas primeiras e últimas palavras
”sem dúvida Amor esta explosão”,
“tenho vivido eternamente preso”…
estas palavras, compreendo-as e sinto-as minhas…
São estas as palavras que me beijam!
De Alexandre O’Neill,

o poema “Há palavras que nos beijam”
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Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,

Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

sábado, junho 14

(Ele)... e eu, cativo de ti...

David Mourão-Ferreira, escreveu Soneto do Cativo.
E eu cativo de ti, eternamente me prendo…
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Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção

o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;

se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encaminhamento e de desprezo;

não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!

quinta-feira, junho 12

(Ela)... bordo-te com alguma fúria...

Sinto de novo a tua falta… é um vazio que dói… uma escuridão que se abate em mim…
o que faço com o meu coração? O que faço com ele que, de tão cheio, ameaça quem me rodeia de ficarem cobertos de mim e de ti…
Não posso adiar o coração…
bordo-te António Ramos Rosa com alguma fúria,

atiçada pelo amor intenso.
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Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração

terça-feira, junho 10

(Ele)... um madrigal com cheiro a ti...

Nos nossos «fazeres-de-conta» nunca poderemos duvidar de algo que é tão basilar como a vida, que faz parte intrínseca da vida -da nossa vida!-, da nossa natureza…
nunca poderemos duvidar dos nossos sentimentos.

Eles são a verdade fundamental!
Nunca duvides do que sinto por ti, independentemente da distância e do tempo.
Haverá um dia que não faremos mais de conta e tudo será certo e cheio e pleno de vida.
Estive a ler o livro que me deste “Rondó das três mulheres do sabonete araxá”… de Manuel Bandeira, esse sublime poeta brasileiro, Madrigal Melancólico, um bordado com cheiro a trópico, a terra húmida e pujante, com cheiro a vida…
a ti?
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O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti.
Não é tua inteligência.
Não é teu espírito subtil.
Tão ágil, tão luminoso.
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical.
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento,
Graça que perturba e que satisfaz.

O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi,
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.

quarta-feira, junho 4

(Ela)... Faz-de-conta-que-abro-as-janelas...

Estás, de novo, distante de mim.
Longe, longe, longe.
Tão longe, que tento fazer de conta que existes...
que a tua presença é real...
que estás aqui ou eu estou aí, que faço parte da tua vida por completo.
Brinco ao faz-de-conta, contando os dias para te ver. Para te ter!
Faz-de-conta-que-abro-as-janelas…
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Faz-de-conta que eu estou junto a ti

(e tu sentes a minha presença a roçar-te o corpo!)

e que te beijo às horas que quero
e às horas que necessitas
-a todas e quaisquer horas-

Faz-de-conta que contemplamos o horizonte
e, nos dias de sol,
deixamos a nossa vista sinuosamente percorrer
as montanhas logo ali em frente, ou
que perscrutamos o verde mais além
através dos chuviscos e do nevoeiro
dos dias mais tristonhos.

Faz-de-conta que percorremos o jardim
e saltito entre as árvores
e os futuros canteiros de flores prometidas,
e me escondo de ti
e te tento com o meu olhar
a chamar-te para que entres dentro dos meus olhos
e te deleites até te saciares por completo
até te sentires irremediavelmente perdido.

Faz-de-conta que me aqueço em ti
-o meu corpo sempre fresco e ávido do teu amor-
e baixinho, ao teu ouvido
te conto a mágoa dos dias com histórias cinzentas.

Faz-de-conta que os teus braços me contornam
e se transformam na redoma que me protege dos males do mundo.

Faz-de-conta que partilho toda a tua vida
e tu,
a minha.

Faz-de-conta que escolhes os versos que me queres ler
e com eles expressas o mundo e o sonho e eu
te olho e
te ouço embevecida.

Faz-de-conta que eu abro as janelas
para arejar a casa e
deixo entrar a luz!