Breve Introdução por Maria da Serra Verde...

Esta é uma história de amor bordada a dois na fina e delicada arte dos poetas…

Ela borda a linha azul
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!

Ele borda a linha verde
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!

Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…

Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.

Perdem-se um no outro…

Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!

terça-feira, junho 10

(Ele)... um madrigal com cheiro a ti...

Nos nossos «fazeres-de-conta» nunca poderemos duvidar de algo que é tão basilar como a vida, que faz parte intrínseca da vida -da nossa vida!-, da nossa natureza…
nunca poderemos duvidar dos nossos sentimentos.

Eles são a verdade fundamental!
Nunca duvides do que sinto por ti, independentemente da distância e do tempo.
Haverá um dia que não faremos mais de conta e tudo será certo e cheio e pleno de vida.
Estive a ler o livro que me deste “Rondó das três mulheres do sabonete araxá”… de Manuel Bandeira, esse sublime poeta brasileiro, Madrigal Melancólico, um bordado com cheiro a trópico, a terra húmida e pujante, com cheiro a vida…
a ti?
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O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti.
Não é tua inteligência.
Não é teu espírito subtil.
Tão ágil, tão luminoso.
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical.
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento,
Graça que perturba e que satisfaz.

O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi,
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.

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