Breve Introdução por Maria da Serra Verde...

Esta é uma história de amor bordada a dois na fina e delicada arte dos poetas…

Ela borda a linha azul
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!

Ele borda a linha verde
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!

Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…

Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.

Perdem-se um no outro…

Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!

sexta-feira, março 21

(Ela)... traduzo-me para ti

Tentei os meus próprios pontos…
mas envergonhei-me deles… por tão singelos não traduzem a minha imensidade…
por isso, agora, um poeta a sério! Que traduz melhor o que sinto e que é tanto!.
«Traduzir-se» de Ferreira Gullar

.........................................................

Uma parte de mim
É todo o mundo
Outra parte é ninguém:
Fundo sem fundo.

Uma parte de mim
É multidão:
Outra parte estranheza
E solidão.

Uma parte de mim
Pesa, pondera:
Outra parte
Delira.

Uma parte de mim
Almoça e janta
Outra parte
Se espanta.

Uma parte de mim
É permanente
Outra parte
Se sabe de repente.

Uma parte de mim
É vertigem:
Outra parte,
Linguagem .

Traduzir uma parte
Na outra parte
-que é uma questão
de vida ou morte-
será arte?

Sem comentários:

Enviar um comentário