Como eu te beijaria hoje! Beijar-te-ia tanto! E de tantas maneiras!
Com carinho… com paixão… com enleio… com devoção…
com todo o sentimento depositado nos meus lábios… transmitindo o meu amor para os teus!
Só beijos a selar-nos –um ao outro-
a colar-nos através das nossas bocas!
Beijos de Mário de Sá-Carneiro, 1910
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Beijar, linda palavra!... um verbo regular
que é muito irregular
nos tempos e nos modos...
Conheço tantos beijos e tão diferentes todos!...
Um beijo pode ser amor ou amizade
Ou mera cortesia,
E muita vez até, dizê-lo é crueldade,
É só hipocrisia.
O doce beijo da mãe
É o mais nobre dos beijos,
Não é beijo de desejos,
Valor maior ele tem:
É o beijo cuja fragância
Nos faz secar na infância
Muita lágrima... feliz;
Na vida esse beijo puro
É o refúgio seguro
Onde é f’liz o infeliz.
Entre as damas o beijo é praxe estab’lecida,
Cumprimento banal, ridículos da vida!-:
(imitando o encontro de duas senhoras na rua)
-Como passou, está bem? (um beijo) O seu marido?
(mais beijos), De saúde. E o seu, Dona Mafalda?
-Agora menos mal. Faz um calor que escalda,
Não acha?, Ai, Jesus, que tempo aborrecido!...
Beijos dados assim, já um poeta o disse,
Beijos perdidos são.
(Perder beijos!, que tolice!)
Porque é que a mim os não dão?
O osculum pacis dos cardeiais
É outro beijo de civ’lidade;
Beijos paternos ou fraternais
São castos beijos, só amizade.
As flores também se beijam
Em beijos incandescidos,
Muito embora se não vejam
Os ternos beijos das flores.
Há outros beijos perdidos:
Aqui mesmo:
Há aqueles que os actores
Dão a esmo,
Dão a esmo e a granel...
Porque lhes marca o papel.
-Mas o beijo de amor?
Sossegue o espectador,
Não fica no tinteiro,
Guardei-o para o fim por ser o ,verdadeiro,
Com ele agora arremeto
E como é o principal
Vai apanhar um soneto
Magistral:
Um beijo de amor é delicioso instante
Que vale muito mais que um milhão de vidas,
É bálsamo que sara as mais cruéis feridas,
É turbilhão de fogo, é espasmo delirante
Não é um beijo puro. É beijo estonteante,
Pecado que abre o céu às almas coloridas.
Ah! Como é bom pecar coas as bocas confundidas
Num desejo brutal de carne palpitante
Os lábios sensuais de uma mulher amada
Dão vida e dão calor. É vida desgraçada
A do feliz que nunca um beijo neles deu;
É vida venturosa a vida de tortura
Daquele que coa boca unida à boca impura
Da sua amante qu’rida, amou, penou, morreu.
(Pausa...Mudando de tom)
Desejava terminar
A beijar a minha amada,
Mas como não tenho amada,
(A uma espectadora)
Vossência é que vai pagar...
Não se zangue. A sua face
Consinta que eu vá beijar...
....................(atira-lhe um beijo)
Um beijo pede-se e dá-se
Não vale a pena corar...
Breve Introdução por Maria da Serra Verde...
Esta é uma história de amor bordada a dois na fina e delicada arte dos poetas…
Ela borda a linha azul…
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!
Ele borda a linha verde…
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!
Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…
Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.
Perdem-se um no outro…
Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!
Ela borda a linha azul…
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!
Ele borda a linha verde…
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!
Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…
Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.
Perdem-se um no outro…
Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!
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