Breve Introdução por Maria da Serra Verde...

Esta é uma história de amor bordada a dois na fina e delicada arte dos poetas…

Ela borda a linha azul
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!

Ele borda a linha verde
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!

Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…

Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.

Perdem-se um no outro…

Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!

terça-feira, abril 29

(Ele)... aprendi contigo a viver em pleno vento...

Um verso da Sophia... para atravessar contigo o deserto do mundo...
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Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminharei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e meu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem vela do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

terça-feira, abril 22

(Ela)... queria colocar-me a mim, inteira...

Que te escrever?
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Que te escrever?
Se o que eu queria era colocar-me a mim
-inteira-
dentro da mensagem
e surgir à tua frente
-Que surpresa!? Que susto!?-
(em carne e osso
e pele e sangue
e alma e coração)
e depois
pegarmos um no outro e sairmos ao encontro do sol e do mundo.
De nós?

Que te escrever?
Que seja o reflexo exacto do turbilhão interior
Do amor e da saudade
Da felicidade e da infelicidade de te ter e não te ter.

Que te escrever?
De forma a que pareça doseado e equilibrado
E não uma amálgama vibrante de sentimentos e emoções
Incompreensíveis, vivos, autónomos.

Que te escrever?
Se o que te escrevo é notoriamente incompleto
E imperfeito

domingo, abril 20

(Ele)... este desejo de corpo e alma...

Pego num livro de Maria Teresa Horta à procura de uma poesia que possa expressar com clareza este desejo do corpo e da alma...
Mas é difícil!
Ela é mulher e exprime a sensação do corpo de mulher...
Encontro, porém, qualquer coisa que poderia ter sido eu a expressar, retirado do livro Anjos
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Deixa-me voar
Por cima do teu
Colo

Até ir poisar
Na tua alma.

sábado, abril 19

(Ela)... uma semana depois...

... uma semana depois...
estava ainda…
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Estava ainda
Com o teu cheiro

Nas mãos
Na cara
Nos lábios
No cabelo
No pescoço

Em mim.
Por fora.

Uma semana depois…
o cheiro tranferiu-se para o coração.

sexta-feira, abril 18

(Ela)... versejando em tom trocista...

Uma brincadeira, aos ais...
-versejando, em tom de época!-
E com um sorriso

–trocista?-
no olhar…
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Por quem sois... como desejais que vos trate, meu amo e senhor?
Excelência ou simplesmente amor?
Dom Fulano de Tal ou Vossa Senhoria?

Que pavor, que horror... como quereis que vos trate?
Com deferência e formalidade
Ou com lágrimas de saudade?

-Ah Senhor Dom como passais?
O coração de Vossa Mercê tem palpitado por esta donzela que por si suspira?

Que dizeis?
Sussurrais?
... Não me apartais de vós que não vos ouço...

Que desejais Meu Senhor, uma prenda? Um recado? Um lenço de namorado?

Eis aqui a vossos pés, Dona-Plebeia-Menina, com recato e com pudor
mas também com muito amor...
À espera que decidais sobre doce tratamento…
…soltando neste entremeio, ais como lamento.

quinta-feira, abril 17

(Ela)... gasto toda a minha linha azul...

Hoje gasto toda a minha linha azul…
Transformo-me -eu própria- numa vaga alterosa que

te lança
espuma no rosto e
sal nos lábios…
Saboreia-os, amor, que me estás a saborear a mim!
...em azul... (6)... Eugénio de Andrade

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Peço às vagas
Altas e sucessivas
Que fossem como folha
De álamo;
Que fossem sobre o coração
Carícia ou só
Memória de lábios.

quarta-feira, abril 16

(Ela)... acordo com a pedra azul na mão...

Tenho de te ajudar a compreender o meu azul…

E se o azul fosse da pedra que apanhei no caminho?
Da pedra que te quero oferecer como símbolo maior do meu sentimento?
E se a pedra contivesse em si todo o meu amor por ti?
A banal pedra azul não se tranformaria na pedra mais preciosa?
...em azul... (5)... A Pedra Azul de Rui Féteira

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Acordo com uma pedra azul na mão.

Levanto-me e vou ao teu encontro. Todas as ruas vão dar ao teu castelo, todos os pássaros me dizem o teu nome.

Depois o sol declina. As ruas desertam noutras ruas. A noite chama os pássaros e os pássaros levam o teu nome nas suas asas incandescentes.

A lua poisa no céu. Entro na última estalagem para pernoitar. Subo as escadas e nas varandas do sono adormeço com a pedra azul entre as mãos.

Amanhã encontrar-te-ei.

(Ela)... só para me espraiar nas areias da tua praia...

Tenho de te ajudar a compreender o meu azul…

E se o azul fosse a imensidão do mar, daquele mar que dá a volta ao mundo, com rebeldia ou mansidão, só para se espraiar nas areias da tua praia?
...em azul... (4)... alguns pontos de um bordado maior de Manuel Alegre

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Há um caminho marítimo no meu gostar de ti.
Há um porto por achar no verbo amar
Há um demandar um longe que é aqui
E o meu gostar de ti é este mar.
(...)
Ai terras de Aquém-Mar (a-quem-amar)

terça-feira, abril 15

(Ela)... o azul dos regatos...

Tenho de te ajudar a compreender o meu azul…

O azul dos regatos que brotam límpidos e vão ao encontro do rio maior que os acolhe…
e se o rio fossem os teus braços, amor… compreenderias o meu azul?
...em azul... (3)... Um soneto –livre – de Manuel Alegre -
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Do amor fica sempre uma canção
Fica um sinal na pele. Fica um sinal.
Do amor fica um sim e fica um não.
Fica o sol e a sombra. Fica o sal

Do amor fica sempre um coração
A pulsar na memória o tempo breve
Da sua chama a arder um só Verão.
Do amor fica amor que se não teve.

Fica uma réstea e um rasto de navio

Do amor o que fica é um passar
Que do amor como o tempo é ser um rio
Como um rio fluir e assim ficar.

E por isso de amor este arrepio
De se morrer (de se viver) de amar.

segunda-feira, abril 14

(Ela)... compreender o meu azul...

Tenho de te ajudar a compreender o meu azul…

o azul da liberdade do céu e das asas do pássaro que o percorre
...em azul... (2)... de Machado de Assis

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Para encontrar o azul eu uso os pássaros...

domingo, abril 13

(Ela)... simplesmente, em azul...

Achas que posso, meu amor?
Achas que posso bordar-te a azul
as palavras do meu coração vermelho?
...em azul... (1)

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Em azul...

do mar?!

Serei grumete?
Comandante?

Do céu?!
Serei pássaro?
Nuvem?
Simplesmente aragem?

Ou dos olhos
Que me contemplam
Com amor?!

De azul...
Visto o meu corpo
E o meu sentimento
E é ar
E é imensidão...
E perco-me em voo de liberdade
No espaço
No tempo
Na vida

Em azul...
Da água?!
Que bebo
E me sacia

Ou dos olhos
Que me afagam
Onde mergulho
Onde me afogo?

sábado, abril 12

(Ela)... que agora tudo faz mais sentido...

Depois do passeio...
depois do jardim...
depois do beijo...
UM BEIJO

–que agora tudo faz mais sentido –
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Ainda perturbada
Ainda sentindo a tua presença real

Nada mudou e tudo mudou

Não estás aqui mas preenches e completas

Concentro-me no que tenho
E tudo é certo
Sem confusão
Sem medo
Sem drama
Sem remorso

Sinto-me feliz
és o meu sonho
a minha poesia

quinta-feira, abril 10

(Ela)... a minha primeira verdade és tu!

... hoje bordo-te as palavras (só algumas) de um outro ilustre poeta,
Giánnis Ritsos [1909-1990] que encontrei –pasme-se!!!- no gabinete do consultório numa revista de poesia intitulada «alma azul – revista de artes e ideias».
Em todos os lugares podemos encontrar poesia! Concluo!
A minha primeira verdade és tu!

Concluo ainda!
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Disse: creio na poesia, no amor, na morte,
E por isso mesmo creio na imortalidade. Escrevo um verso,
Escrevo o mundo; existo; existe o mundo.
Da ponta do meu dedo mínimo corre um rio.
O céu é sete vezes azul. Esta pureza
É de novo a primeira verdade (...)

quarta-feira, abril 9

(Ela)... é só do chão que nascem as flores...

...as segundas de Amadeu Telles Marques
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Esquece os deuses e pisa forte a terra
Sem medo
Que a lama e a poeira causem dores
É só do chão que nascem as flores

(Ela)... ansiando o teu regresso...

... E te deixo com esta prenda em palavras...ansiando o teu regresso…
As primeiras são de Xavier Zarco...
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Há um regresso
Escrito
Algures

Uma pedra
Grávida
De formas
De humanos
Desejos

Um porto
Algures
Onde zarparas

Um cais
Onde amarrar
A vontade

E um momento
Este momento
De simples
Sonhar

terça-feira, abril 8

(Ele)... andando por aqui e por ali...

ainda em Paris…andando por aqui e por ali… encontro-te em todos os lugares…
e encontro, também, este poema bordado por um poeta que
viveu um tempo breve no início do século vinte.
Traduzo para ti, como sei e como sinto, o poema de Robert Desnos [1900-1945]

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Sonhei tanto contigo, caminhei tanto
Falei tanto, dormi tanto com o teu fantasma
Que talvez não me reste nada mais do que
Ser fantasma entre os fantasmas e cem vezes
Mais sombra do que a sombra que se passeia
E se passeará alegremente sobre o círculo solar
Da tua vida

segunda-feira, abril 7

(Ela)... mais longe ainda do longe...

Quando estás mais longe ainda do longe onde costumas estar… eu sinto mais ainda a tua falta…
ainda e sempre Eugénio de Andrade
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Vê como de súbito o céu se fecha
Sobre dunas e barcos,
E cada um de nós se volta e fixa
Os olhos um no outro,
E como deles devagar escorre
A última luz sobre as areias.

Que diremos ainda? Serão palavras,
Isto que aflora aos lábios?
Palavras? Este rumor tão leve
Que ouvimos o dia desprender-se?
Palavras ou luz ainda?

domingo, abril 6

(Ele)... em Paris, sem ti... que desperdício!

Paris… a cidade dos amantes… estou aqui e tu estás aí… que desperdício!
Que saudades ainda maiores de ti!
Percorro museus e penso em ti. Vejo-te nas musas de outros.
Calcorreei há pouco uma exposição sobre surrealismo no Beaubourg.
Lá encontrei um poema de Paul Élouard que eu gostaria de ter escrito para ti.
Por que não o escrevi?
Traduzo-o livremente e bordo-o com as minhas próprias linhas…
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Sobre os meus cadernos de escola

Sobre a minha carteira e nas árvores

Sobre a areia e sobre a neve

Escrevo o teu nome

quinta-feira, abril 3

(Ele)... tu estás em mim...

Peguei num livro de Mário Cesariny.
Deixo-te um curto poema, que poderia ter sido bordado por mim

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Tu estás em mim como eu estive no berço

Como a árvore sob a sua crosta

Como o navio no fundo do mar.

quarta-feira, abril 2

(Ela)... existes?

Existes?
Não existes?
De David Mourão-Ferreira, Legenda

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Nada garante que tu existas

Não acredito que tu existas

Só necessito que tu existas
.

terça-feira, abril 1

(Ela)... vontade de mergulhar num sorriso!

Quando um sorriso nos lembra o mar e nos dá vontade de mergulhar.
Ainda de Eugénio de Andrade, O Sorriso

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Creio que foi o sorriso,
O sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
Lá dentro, apetecia
Entrar nele, tirar a roupa, ficar
Nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

(Ela)... há dias assim

Que qualquer sorriso vindo do teu passado te dê a capacidade de, hoje, sorrir...
E não te esqueças também do meu sorriso… que resplandece com o teu olhar
de Eugénio de Andrade, “Há dias...”

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Há dias em que julgamos
Que todo o lixo do mundo nos cai
Em cima. Depois
Ao chegarmos à varanda avistamos
As crianças correndo no molhe
Enquanto cantam.
Não lhes sei o nome. Uma
Ou outra parece-se comigo.
Quero eu dizer: com o que fui
Quando cheguei a ser
Luminosa presença da graça,
Ou da alegria.
Um sorriso abre-se então
Num Verão antigo
E dura, dura ainda.

(Ela)... sê o meu mar!

Há muitas formas de ver o mar...tenta ver o mar pelos meus olhos…
vê e sente o porquê do meu amor ao mar… sê o meu mar …
ainda de Amadeu Telles Marques – Prémio Nacional Revelação Poesia de 1971, o poema ‘Ilha’

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Na ilha que tu és
(a ilha que somos todos nós)
que eu seja
em todo o horizonte, em todo o tempo,
o mar sereno e forte que te envolve.
-Nas vagas de raiva e de paixão,
na espuma do poente em maré baixa.