Breve Introdução por Maria da Serra Verde...

Esta é uma história de amor bordada a dois na fina e delicada arte dos poetas…

Ela borda a linha azul
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!

Ele borda a linha verde
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!

Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…

Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.

Perdem-se um no outro…

Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!

sábado, maio 31

(Ela)... mesmo não sendo azuis, os teus olhos...

Como me afogo no azul dos teus olhos, que mesmo não sendo azuis,
são como água cristalina que me contempla e refresca…

Amadeu de Sousa Telles para ti
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Os teus olhos...
Os teus olhos riem. São um rio
Que desventrando areias não secou
Para vir lançar um desafio
A este mar de mágoa que sou.
E como por milagre ou por encanto,
O mar imenso, magoado e triste,
Trocou nas minhas ondas o seu pranto
Pelo sorriso que lhe transmitiste.

sexta-feira, maio 30

(Ela)... se eu feiticeira, tu mais forte poção...

Hoje bordo-te com a magia das poções mágicas...
como se eu, feiticeira,
tivesse os dotes mais poderosos do universo para te encantar.
De Ana Luísa Amaral, Memórias e Magias
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Crio-te na memória mais compacta
De que sou capaz


(dentro de um malmequer,
pólen, folhas, pétalas, no espaço
mais minúsculo do centro)

Depois de assim te ter,
é tempo de falar-te a espaços largos

(no poema mais livre,
ponto de rede aberto
como de arrastão)
Como de estalar de dedos,
A magia mais mágica

(se eu feiticeira,
tu mais forte poção:
a de invocar os deuses gregos todos,
as forças mais ocultas, sumério
ou cristão que fosse deus)

(...)

quinta-feira, maio 29

(Ele)... tenho sentido a tua cabeça no meu ombro...

Um tempo haverá em que não precisarás de poesia de terceiros para contar os teus estados de alma e as tuas perplexidades.
O verso do Raul de Carvalho encaixa perfeitamente em nós...
e o do Nuno Júdice...

retive este início e acho que esse sítio existe... aqui... no meu jardim...
com a calma do entardecer,
a brisa correndo nas copas das árvores,
pássaros chilreando ao longe.
Aqui, às vezes, tenho sentido a tua cabeça no meu ombro.
É o meu lugar mítico, o sítio dos meus silêncios.
Aí, se um dia realmente lá estivermos os dois não diremos uma só palavra.
Mas tu sentirás como nunca a união.

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Lembro-me agora que tenho de marcar um
Encontro contigo, num sítio em que ambos
Nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
Das ocorrências da vida venham
Interferir no que temos para dizer. (...)

quarta-feira, maio 28

(Ela)... encontrar uma fórmula que disfarce o que não consigo dizer...

E finalmente de Nuno Júdice...
as palavras que ficam sempre por dizer...
e o porquê de não serem ditas...

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Lembro-me agora que tenho de marcar um
Encontro contigo, num sítio em que ambos
Nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
Das ocorrências da vida venham
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
Vezes me lembrei que esse sítio podia
Ser, até, um lugar sem nada de especial,
Como um canto de um café, em frente de um espelho
Que poderia servir de pretexto
Para reflectir a alma, a impressão da tarde,
O último estertor do dia antes de nos despedirmos,
Quando é preciso encontrar uma fórmula que
Disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
Que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
Aquela que permite a passagem à comunicação
Mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
De Súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
Leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
Ser, como se uma troca de almas fosse possível
Neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
Me peças: «Vem comigo!», e devo-te dizer que muitas
Vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
Isto é, a porta tinha-se fechado até outro
Dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
As palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
Sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
Um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
Para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
É também a mais absurda, de um sentimento; e, por
Trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
Seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
Do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
Encontrar, que há-de ser um dia azul, de Verão, em que
O vento poderá soprar de norte, como se fosse daí
Que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
Que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
Das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

(Ela)... saber que existo para além de mim...

O terceiro, de Raul de Carvalho, que me lembra a alegria, a certeza, a luz...
de ter encontrado uma alma idêntica e
que sonha com a mesma intensidade e
com a qual me troco e me partilho...
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A verdade é que fomos
Feitos do mesmo sangue
Violento e humilde
A verdade é que temos
Ambos a graça de compreender
Todos os homens e todas as estrelas
(...)
Tu ensinaste-me as palavras simples
As palavras belas
As palavras justas
E fizeste com que eu já não saiba
falar de outra maneira.
(...)
Sonhar contigo é quase como
Saber que existo para além de mim.
Vês como é tão simples
Ter o coração
Tão perto da terra
E os olhos nos olhos
e a alma tão perto
Da tua alma.

(Ela)... para ti eu criarei um dia puro...

O segundo poema, de Sophia, que define os meus pavores nocturnos,
quanto te sinto com mais força no meu coração e,
ao mesmo tempo,
a tua ausência é tão palpável e real
que a noite fica tão escura, tão escura…
nesses momentos…fecho os olhos com força e repouso o rosto no teu peito…
se não os abrir, quase me convenço da tua presença.

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Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
mal de te amar neste lugar de imperfeição
onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum Deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
como o florir das ondas ordenadas

(Ela)... abrigo no peito...

...escolhi com extremo cuidado as palavras bordadas por quatro poetas
que explicarão por mim,
os meus sentimentos perante os dias tristes…
aqueles dias que me afastam de ti

e do teu olhar
e das tuas mãos
e da tua voz...
se leres com atenção compreender-me-ás...

o primeiro de Álvaro de Campos
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(...)
Ontem passei nas ruas como qualquer pessoa
olhei para as montras despreocupadamente
e não encontrei amigos com quem falar.
de repente vi que estava triste, mortalmente triste,
tão triste que me pareceu que seria impossível
viver amanhã, não porque morresse ou me matasse,
mas porque seria impossível viver amanhã e mais nada.
fumo, sonho, recostado na poltrona.
dói-me viver como uma posição incómoda.
deve haver ilhas para lá do sul das cousas
onde sofrer seja uma cousa mais suave.
onde viver custe menos ao pensamento,
e onde a gente possa fechar os olhos e adormecer ao sol
e acordar sem ter que pensar em responsabilidades sociais.
Nem no dia do mês ou da semana que é hoje.
Abrigo no peito, como a um inimigo que temo ofender,
um coração exageradamente expontâneo.
Que sente tudo o que eu sonho como se fosse real,
Que bate com o pé a melodia das canções que o meu pensamento canta,
Canções tristes, como as ruas estreitas quando chove.

domingo, maio 25

(Ele)... para ti rasguei ribeiros...

Das Mãos e os Frutos de Eugénio de Andrade
aqui e ali…

madrigais do meu amor por ti
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Nos teus dedos nasceram horizontes
e aves verdes vieram desvairadas
beber neles julgando serem fontes

**

Tu já tinhas um nome, e eu não sei
se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor

**
Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
E dei às romãs a cor do lume.

Foi para ti que pus no céu a lua
e o verde mais verde nos pinhais.
Foi para ti que deitei no chão
Um corpo aberto como os animais.

**

Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
O teu sorriso puro,
A tua graça animal.

Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
o mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho

Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
Nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
por vê-los nus e suados.

sábado, maio 24

(Ele)... és o espelho onde esmero...

Descobri esta poesia numa arca velha lá de casa.
Estava escrita à mão, numa folha tosca, quadriculada.
Datava de 1973 e foi escrita em Lourenço Marques.
Assinada por António de Matos Ferreira. Vê como são belas as palavras.
Escrever-tas-ia para ti em dias de tempestade.

És a minha razão.
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És o cofre onde encarcero
Meus sentidos alienados
Minhas razões derrotadas
O meu sonho já desfeito

És o espelho onde esmero
Meus traços já deformados
Minhas feições enrugadas
Os lamentos do meu peito

És cama de leves penas
Onde minha vida deito
Onde choro e desespero
Onde sonho, rio e canto

És paz de noites serenas
Alimento do meu peito
És tudo por quanto espero
És o lenço do meu pranto

És barca da minha vida
Meu timão, roda de leme
És bússola, roteiro, norte
És meu princípio, meu fim

Em ti embarco, vencido
E em tua mão, que não treme
Eu entrego, até à morte,
O que sobeja de mim.

quinta-feira, maio 22

(Ela)... ainda o calor dos teus...

Na ponta dos meus dedos…ainda o calor dos teus…
é este o sentido da minha carícia…
não sei se há poetas melhores ou piores, se há poesia mais bela uma que outra…
mas sei que Jorge de Sousa Braga fala dos meus sentimentos
como se os conhecesse por dentro

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Escrevo
com os dedos ainda longos
da carícia

quarta-feira, maio 21

(Ele)...o nosso Jogo...

o Jogo de Nuno Júdice descreve-nos…
as dificuldades, as hesitações, os recuos e os avanços possíveis…
e é nesse momento que o fogo nos consome!

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Eu, sabendo que te amo,
e como as coisas do amor são difíceis,
preparo em silêncio a mesa
do jogo, estendo as peças
sobre o tabuleiro, disponho os lugares
necessários para que tudo
comece: as cadeiras
um em frente da outra, embora saiba
que as mãos não se podem tocar,
e que para além das dificuldades,
hesitações, recuos
ou avanços possíveis, só os olhos
transportam, talvez, uma hipótese
de entendimento. É então que chegas,
e como se um vento do norte
entrasse por uma janela aberta,
o jogo inteiro voa pelos ares,
o frio enche-te os olhos de lágrimas,
e empurras-me para dentro, onde
o fogo consome o que resta
do nosso quebra-cabeças.

segunda-feira, maio 19

(Ele)... amar-te é mais que possuir-te...

o poeta de Coimbra, Amadeu Telles Marques borda as palavras de forma sublime…
é homem!

e expressa os meus sentimentos de homem…
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Amar-te
É desejar-te
Mais que possuir-te.

É possuir-te
Depois de desejar-te
É desejar-te ainda
Depois de possuir-te.

Amar-te
É definir a urgência de ti
E descobrir que, então
O mundo todo me acompanhou.

Amar-te
É verbo transitivo
Te amei. Te amo. Te amarei
.

sexta-feira, maio 16

(Ela)... sempre por fora... sempre por dentro...

Desde o dia da nossa partilha maior que penso, que sinto, que te quero ter sempre…
Sempre por perto… sempre por fora… sempre por dentro…
de Conceição Valada Manaia, sempre ...

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Sempre
É o sonho mais distante que eu consigo Ter
Não me censures
A culpa está no frenesim
Que me habita
Discreto desabrocha
Nas tuas mãos e pede um destino
Podes não ver para lá deste incêndio
Deste compêndio
Da enumeração perfeita
Mas eu existo
O sonho é ser sempre
Estou possuída
Onde toco tudo se transforma
A metamorfose da existência
É o teu fascínio
Habitas-me
Na simbiose dos desejos
A que eu chamo sonhos.

quinta-feira, maio 15

(Ele)... a minha e a tua pele...

Pele, de David Mourão-Ferreira
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Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
De mais que tua pele ser pele da minha pele

sexta-feira, maio 9

(Ele)... rio dentro do rio...

de Carlos Nejar… palavras belas…
que demonstram o meu desejo por ti…
quero ser ‘rio dentro do rio’,
‘corpo dentro do corpo’…
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Nossa sabedoria é a dos rios.
Não temos outra.
Persistir. Ir com os rios,
Onda a onda.

Os peixes cruzarão nossos rostos vazios.
Intactos passaremos sob a correnteza
Feita por nós e o nosso desespero.
Passaremos límpidos.

E nos moveremos,
Rio dentro do rio,
Corpo dentro do corpo,
Como antigos veleiros.

segunda-feira, maio 5

(Ela)... não me conheces, ainda!

Ainda não...
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O percurso sinuoso
(dos meus sentimentos ? Ou do meu corpo ?)...
não conheces ainda...
... os contornos
ou de cor a boca
até lhe saber o sabor dos (en)cantos...

....não exploraste,
não ainda...
a pele
centímetros de poros alvos...

...não rodopiaste
os cabelos
nas tuas mãos...
...mãos
que não vasculharam
os recantos,
os detalhes...

...não reconheces também
os tremores e os arrepios...
...nem sabes que...
-consentida e desejada...
em acto de egoísmo e de dádiva-
a doce invasão
é uma serena partilha
que deixa o corpo e o coração
completos...

domingo, maio 4

(Ela)... e antes que me arrependa...

Ouvindo os teus lábios na minha pele e antes que me arrependa.
Um beijo em tempo real...

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os meus olhos cerrados
e
os teus lábios sobre mim
nada mais
que não
o contacto
breve
da tua boca
sobre a minha pele
na descoberta
lenta
doce
numa entrega
mútua
intensa
feliz

(Ele)... ter-me-ás contigo, incrédulo ainda...

Fui buscar pontos novos aos poetas vizinhos que partilham
este mais-ou-menos-mal-recortado-quadrado-de-terra…
são pontos de Àlvar Valls e que encontrei na antologia da poesia catalã que me ofereceste
Um poema para ti: Última lição de amor

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Ter-me-ás contigo a cada pancada
do teu coração, incrédulos os dois ainda
ante o milagre de uma nova alba,
bela, definitiva, bem nossa.
Os teus olhos humedecer-se-ão
- não de choro, porque as lágrimas
serão centelhas incontidas de alegria -
e voltaremos a aprender, agora para sempre,
lições inteiras de felicidade.
Então dir-te-ei: "Vês como a vida,
no fim de contas, sempre sorri?"
Só é preciso esperar - e agora recito em plural
porque o mundo não somos só tu e eu -
que a luta e a coragem frutifiquem.
A luta e a coragem de ontem, de hoje e de amanhã;
a luta e a coragem e a dor de cada dia.

sábado, maio 3

(Ela)... a nossa vida existe para além do que somos...

A nossa vida existe para além do que somos…
existe para além do nosso amor…
mas este, tem lugar cativo no mundo.
Existe também e está numa terra a leste do coração…
numa Terra Incógnita para todos, para os demais…
alguns pontos bordados por João de Mancelos

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Há uma terra a leste do coração,
Meu amor,
Para lá dos mundos naufragados,
À esquerda da esperança.

Não tem nome, nem mapa, nem rota,
É uma terra de vento e luz,
Onde Deus está por inventar,
E o Demo não desembarcou ainda.

É uma pulsante ilha no meu peito,
Escuta-a, amor,
A terra onde poisarás a fronte,
E onde uma noite apenas
Dura todo o sempre.

sexta-feira, maio 2

(Ele)... o âmago do teu azul

Será que finalmente vou conseguir compreender o âmago do teu azul?
E se o azul fosse O mar nos teus olhos?
pela Maria Teresa Horta

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I

É o mar meu amor,
na febre dos teus olhos
é o manso fascínio
da onda que se inventa
É o mar meu amor,
mestiço nos teus olhos
é o mirto, o queixume
a mansidão tão lenta

II

É o mar, meu amor,
o lastro dos sentidos
que afogas nos olhos
sem nunca te afundares
É o mar, meu amor,
que transportas nos olhos
e onde eu nado o tempo
sem nunca me encontrar.

quinta-feira, maio 1

(Ele)... sinto-me velho hoje!

Hoje, sinto-me velho! Olho o meu rosto ao espelho e
ele não me devolve a imagem de todos os outros dias.
Estás longe e eu não compreendo porque não estás perto.
Sinto-me velho, velho, velho!
Como se a vida, no dia de hoje, se tivesse esvaído e eu
só conseguisse bordar estas palavras como se fossem as últimas palavras…
Do Rui Knopfli, mais um poema

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Não envelheço. Torno-me antigo.
O velho sempre viveu em mim,
sempre o pressenti no olhar
magoado, demorando-se nas coisas, em certa lentidão não premeditada
dos gestos e nas lembranças confusas
de uma outra recuada idade.
Sempre aflorou na mão e na estima
triste que se estende aos amigos,
na aresta de desconsolo que espreita
as minhas horas de amor.
O velho sempre viveu em mim.
Eis que, enfim, o reboco
se lhe começa a assemelhar.