Breve Introdução por Maria da Serra Verde...

Esta é uma história de amor bordada a dois na fina e delicada arte dos poetas…

Ela borda a linha azul
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!

Ele borda a linha verde
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!

Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…

Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.

Perdem-se um no outro…

Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!

sábado, maio 24

(Ele)... és o espelho onde esmero...

Descobri esta poesia numa arca velha lá de casa.
Estava escrita à mão, numa folha tosca, quadriculada.
Datava de 1973 e foi escrita em Lourenço Marques.
Assinada por António de Matos Ferreira. Vê como são belas as palavras.
Escrever-tas-ia para ti em dias de tempestade.

És a minha razão.
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És o cofre onde encarcero
Meus sentidos alienados
Minhas razões derrotadas
O meu sonho já desfeito

És o espelho onde esmero
Meus traços já deformados
Minhas feições enrugadas
Os lamentos do meu peito

És cama de leves penas
Onde minha vida deito
Onde choro e desespero
Onde sonho, rio e canto

És paz de noites serenas
Alimento do meu peito
És tudo por quanto espero
És o lenço do meu pranto

És barca da minha vida
Meu timão, roda de leme
És bússola, roteiro, norte
És meu princípio, meu fim

Em ti embarco, vencido
E em tua mão, que não treme
Eu entrego, até à morte,
O que sobeja de mim.

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