Breve Introdução por Maria da Serra Verde...

Esta é uma história de amor bordada a dois na fina e delicada arte dos poetas…

Ela borda a linha azul
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!

Ele borda a linha verde
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!

Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…

Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.

Perdem-se um no outro…

Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!

quarta-feira, maio 28

(Ela)... encontrar uma fórmula que disfarce o que não consigo dizer...

E finalmente de Nuno Júdice...
as palavras que ficam sempre por dizer...
e o porquê de não serem ditas...

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Lembro-me agora que tenho de marcar um
Encontro contigo, num sítio em que ambos
Nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
Das ocorrências da vida venham
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
Vezes me lembrei que esse sítio podia
Ser, até, um lugar sem nada de especial,
Como um canto de um café, em frente de um espelho
Que poderia servir de pretexto
Para reflectir a alma, a impressão da tarde,
O último estertor do dia antes de nos despedirmos,
Quando é preciso encontrar uma fórmula que
Disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
Que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
Aquela que permite a passagem à comunicação
Mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
De Súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
Leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
Ser, como se uma troca de almas fosse possível
Neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
Me peças: «Vem comigo!», e devo-te dizer que muitas
Vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
Isto é, a porta tinha-se fechado até outro
Dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
As palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
Sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
Um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
Para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
É também a mais absurda, de um sentimento; e, por
Trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
Seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
Do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
Encontrar, que há-de ser um dia azul, de Verão, em que
O vento poderá soprar de norte, como se fosse daí
Que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
Que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
Das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

1 comentário:

  1. estive aqui 29-05-2009 e como sempre sai encantado e com uma vontade enorme de gritar bem alta o que me vai na alma, mas sei que não posso porque os olhos que contemplo assim o exigem.

    Eu

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