Breve Introdução por Maria da Serra Verde...

Esta é uma história de amor bordada a dois na fina e delicada arte dos poetas…

Ela borda a linha azul
é uma mulher do mar, do ar, do céu…
aprecia o espaço e a liberdade…
é sonhadora e eloquente, procura a linha do horizonte…
mas nunca esquece a terra firme…
os seus pontos são laboriosos, pequeninos e delicados…
em contraste com a decisão e firmeza de quem sabe o que quer!

Ele borda a linha verde
é um homem da floresta, da montanha…
das gélidas invernias, das paisagens bucólicas e silvestres,
que preza a pacatez e tranquilidade dos dias…
é um idealista, vive sempre noutras dimensões mais atrás ou mais adiante no tempo
os seus pontos são elaborados mas nem sempre com remates seguros!

Entre ambos a trama… da ideia, do sonho, da poesia!
E o crescendo do sentimento que se transforma em amor…

Encontram-se algures na vida…
percorrem-na saboreando as palavras que trocam como acto transcendente de cumplicidade.

Perdem-se um no outro…

Mais à frente as linhas da vida divergem.
E esta rouba-lhes o tempo, tira-lhes o espaço …
Mas as palavras bordadas pelos poetas, essas, permanecem!
Como testemunho do sublime que, um dia, aconteceu entre ambos!

quarta-feira, maio 28

(Ela)... abrigo no peito...

...escolhi com extremo cuidado as palavras bordadas por quatro poetas
que explicarão por mim,
os meus sentimentos perante os dias tristes…
aqueles dias que me afastam de ti

e do teu olhar
e das tuas mãos
e da tua voz...
se leres com atenção compreender-me-ás...

o primeiro de Álvaro de Campos
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(...)
Ontem passei nas ruas como qualquer pessoa
olhei para as montras despreocupadamente
e não encontrei amigos com quem falar.
de repente vi que estava triste, mortalmente triste,
tão triste que me pareceu que seria impossível
viver amanhã, não porque morresse ou me matasse,
mas porque seria impossível viver amanhã e mais nada.
fumo, sonho, recostado na poltrona.
dói-me viver como uma posição incómoda.
deve haver ilhas para lá do sul das cousas
onde sofrer seja uma cousa mais suave.
onde viver custe menos ao pensamento,
e onde a gente possa fechar os olhos e adormecer ao sol
e acordar sem ter que pensar em responsabilidades sociais.
Nem no dia do mês ou da semana que é hoje.
Abrigo no peito, como a um inimigo que temo ofender,
um coração exageradamente expontâneo.
Que sente tudo o que eu sonho como se fosse real,
Que bate com o pé a melodia das canções que o meu pensamento canta,
Canções tristes, como as ruas estreitas quando chove.

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